PESSACH - MENSAGENS ÉTICAS, MORAIS E SOCIAIS
Neste momento em que
vivemos a festa da libertação, temos o compromisso intrínseco de
renovar seus significados para os tempos e locais que vivemos. Renunciar
a tal missão, nos outorgaria ao ostracismo do mundo espiritual, que não
comporta o imobilismo.
As libertações são possibilidades
múltiplas no espectro da existência humana, e o que não faltam, são os
exemplos respectivos na narrativa de Pessach.
O personagem
central da narrativa bíblica, Moisés, radicaliza este conceito quando
rompe com suas origens, renunciando à sua vida de príncipe do Egito,
após ter seu coração tocado pela brutalidade com a qual era tratado o
escravo. Recebe então, um pesado fardo, o de libertar um povo que de
tanto se acomodar na opulência de uma terra rica, terminou por ser
escravizado e dominado.
Não obstante seu infinito poder, o Eterno
não faz concessões. Suas designações devem operar-se pelas mãos e
mentes dos humanos, que onde quer que estejam, tem o seu papel
transformador através da auto-transformação. O mundo por Ele criado é o
palco mais que suficiente para essas tarefas.
Há muitos "Egitos"
no mundo de hoje, muitas pirâmides, faraós, palácios e príncipes. Não
seria nada difícil construir uma narrativa semelhante com os elementos
presentes na nossa cultura e sociedade.
Entre os Egitos, mitos,
ídolos, está um consumismo que aprisiona segmentos de nossa sociedade em
análogos da escravidão. Submetidos neste momento a pressões de mídias
as mais diversas, milhões de pessoas que amassam o barro de nações,
tendo a nossa como ótimo exemplo, encontram prazer e satisfação no
consumo de bens supérfluos de altíssimo custo, o que compromete seus
orçamentos e sua capacidade de crescer economicamente, de progredir na
escala social, em um ciclo mais que perverso. Alimentando a máquina do
consumo fútil, transferem sua pouca riqueza àqueles que já são ricos,
tornando-os ainda mais ricos e tornando-se ainda mais pobres e
endividados.
A estrutura familiar, por sua vez, encontra-se
minada e arrasada pela necessidade de trabalho e produção, a consumir
tempo e energia de pais e mães, que já não mais conseguem prover o afeto
a seus filhos em função de sua carga de trabalho e estresse vivido nos
grandes conglomerados urbanos. Fecha-se assim mais uma alça de
alimentação deste círculo vicioso. Sucessivamente, formam-se gerações de
crianças e adolescentes com todo o tipo de deficiência afetiva e
imaturidade emocional, condenados à satisfação de seus instintos pelo
consumo compulsivo de qualquer coisa, no que dramaticamente se incluem
as drogas, hoje funcionando como verdadeiras pragas bíblicas.
Contribuindo
ainda mais ao ciclo, o sistema político produz por sua vez um sistema
educacional voltado apenas a formar futuros trabalhadores, mas não
pensadores, não líderes, não provedores de afeto, solidariedade,
fraternidade, e paz, e muitos sistemas religiosos absorveram a lógica de
mercado, espetacularizando, mercantilizando e profanando as heranças
espirituais.
Hoje, a Terra Prometida é a paz, tão difícil de ser
alcançada, tanto no plano interno das nações como em suas relações entre
si. A mensagem que Pessach tem para o momento, não poderia ser mais
emblemática: Atravessar o "mar vermelho", comer a Matzá, o pão sem
fermento, e peregrinar um pouco pelo deserto, onde estejamos apenas
entre nós mesmos e o Eterno, e tentar, desta vez, não repetir o episódio
do bezerro de ouro.
Na narrativa bíblica, houve assim o nascimento de um povo livre. No mundo autal, poderíamos fazer nascer um planeta livre.
NELSON NISENBAUM
PESSACH, 5774
terça-feira, 29 de abril de 2014
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