terça-feira, 6 de julho de 2010

GAZA NÃO É O INFERNO QUE DIZEM

Caros amigos e amigas,

Apesar de todas as mudanças que o mundo sofreu nos últimos 100 anos, principalmente no tocante ao campo do conhecimento, da informação e do uso que se faz deles, permanece a sensação - e talvez mesmo o fato - de como é fácil construir-se uma história orientada a convencer leitores de alguma coisa. Uma das histórias mais bem construídas, um sucesso indiscutível de mídia, é a da vitimização do povo palestino. É verdade sim, que há palestinos vitimizados, e das formas mais cruéis e desumanas possíveis, mas certamente são minoria, e seus verdadeiros algozes não são aqueles tradicionalmente responsabilizados por essa tragédia.

A matéria publicada no IG, com origem na BBC, copiada abaixo da origem por mim mesmo, nos dá conta de uma verdadeira explosão demográfica exemplificada pela vida de um simplório e feliz cidadão, que evidentemente só pode ter atingido tal feito em um ambiente que poderia ser chamado de tudo, menos de miserável, oprimido, vitimizado, ou assim por diante. Os números revelados pelo presidente da Síria, que alega ter 500.000 refugiados em seu território, mostram uma outra conspícua face do fenômeno. Outros países alegam ter tantos outros refugiados, que devem ser somados à atual população palestina residente, de aproximadamente 4 milhões de pessoas. Em síntese, de absoluta minoria há cerca de 50 anos, entre residentes e refugiados, já temos um formidável contingente humano que se multiplicou em progressão geométrica. Em números tidos como oficiais, a população de Gaza cresce a 5% ao ano. Grosseiramente, algo próximo à metade ou mais das mulheres em idade fértil estão grávidas constantemente.

Um dado - embora sem significância estatística, mas suficiente para instigar o intelecto em qualquer espectro - revela-nos uma outra verdade, que pode evidenciar a fragilidade dos argumentos dos "fabricantes de vítimas". O valente reprodutor relata que perdeu 5 membros da família em conflitos com Israel. Mas perdeu 10 membros em conflitos internos da palestina, que ele mesmo admite textualmente temer mais do que a Israel.

Ainda que reconheçamos a singularidade da situação e do indivíduo, penso restarem poucas dúvidas de que ele é talvez o mais bem sucedido de seu meio, mas é também fruto deste meio, onde deve ter diversos competidores, em um sentido mais frio. De qualquer forma, o estudo matemático e econômico deste retrato revela com relativa facilidade que a vida no mundo palestino não deve ser aquela retratada pelas grandes mídias e tão ferozmente propaladas por diversos segmentos formadores de opinião, a menos que desprezemos os mais comezinhos princípios das citadas ciências, além, é claro, daquela com a qual tenho mais intimidade, a medicina. Algo me diz tratar-se de um povo muito saudável, por sinal. E que D'us os proteja de seus verdadeiros inimigos.

NELSON NISENBAUM
S.Bernardo do Campo, 5 de julho de 2010.

VEJAM A MATÉRIA ABAIXO

Filho único queria família grande e já tem 30 filhos e 430 netos

Abu Talal, de 82 anos, já viveu com 11 mulheres diferentes ao longo da vida

BBC Brasil | 05/07/2010 08:56

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Ao dirigir por uma rua cheia de poeira e buracos no sul de Gaza para conhecer um dos amantes mais férteis do território, nós nos perdemos. Paramos para perguntar o caminho certo.

"Você conhece a casa de Abu Talal?", eu gritei para fora da janela do carro para um jovem menino na beira da estrada. "Sim, ele é meu avô", respondeu o garoto.

Você pode estar pensando que esta foi uma grande coincidência - até saber que Abu Talal al-Najar, de 82 anos, tem mais de 430 netos. Ele também tem 30 filhos e viveu com 11 mulheres diferentes ao longo dos anos. Atualmente, ele tem apenas quatro.

Uma lenda

Foto: BBC Brasil

Abu Talal (de gorro), com alguns de seus netos

A lei em Gaza, assim como a lei religiosa Sharia estipulada pelo Corão, diz que o número máximo de mulheres que um homem pode ter ao mesmo tempo é quatro. Porém, é bastante incomum os homens de Gaza terem mais de uma mulher.

Chegando a sua casa, uma estrutura semi-acabada próxima à cidade de Khan Younis, encontramos Abu Talal ajoelhado no canto do quintal, virado para o leste e rezando. Ele se curvou, colocando sua testa no chão, seus braços esticados no tradicional ritual - ainda flexível mesmo aos 82 anos.

Após vários minutos ele se levantou para nos cumprimentar, uma figura robusta, parecida com um touro, com um largo sorriso e um aperto de mão firme.

Abu Talal é uma espécie de lenda no sul de Gaza. Com seu monte de filhos (outros 11 morreram ao longo dos anos) ele criou uma das maiores famílias da região.

Um 'hobby'

"Eu era filho único", ele me contou. "Então eu queria uma família grande - além disso, acabou simplesmente virando um hobby", ele brinca. O filho mais novo do octogenário tem apenas dois anos de idade.

Com a ajuda de alguns de seus netos, ele consegue se lembrar dos nomes dos filhos que sobreviveram, 17 meninas e 13 meninos. "Toda vez que uma criança nasce nesta família nós sacrificamos uma cabra para comemorar", disse Abu Talal. Más notícias se você é uma cabra em Gaza, eu sugiro.

A população de Gaza está crescendo a uma taxa anual de 5%. Cerca de 1,5 milhão de pessoas vive espremida em uma faixa de terra de 40 quilômetros de comprimento por 12 de largura.

Muitas pessoas vivem na pobreza, com índices de desemprego por volta de 40%, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

Abu Talal não se preocupa em trazer crianças a um mundo como este? "Não, porque se eu perder 200 dos meus netos, eu ainda vou ter outros 200".

Luta palestina

Pelo menos cinco integrantes de sua família foram mortos no último grande conflito com Israel, em janeiro do ano passado, em que a ONU estima que cerca de 1,4 mil palestinos e 13 israelenses foram mortos. Abu Talal também perdeu 10 integrantes da família durante o conflito entre o Fatah e o Hamas em 2007.

O movimento islâmico Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza após expulsar seus rivais seculares, o Fatah, do território. Antes disso, o Hamas havia vencido as eleições parlamentares, realizadas em 2006.

Abu Talal nasceu em Gaza em 1928 durante o Mandato Britânico da Palestina. "Os britânicos eram ruins. Os israelenses eram piores, mas o maior perigo para os meus filhos agora é o desentendimento contínuo entre o Fatah e o Hamas - palestinos lutando entre si", diz Abu Talal.

Ele teve 11 mulheres durante sua vida. Algumas delas morreram e alguns casamentos terminaram em divórcio. Sua mulher atual mais jovem é cerca de 50 anos mais nova do que ele.

Perguntado se o pai de 30 encerrou seus trabalhos, ele ri: "Eu ainda acho que conseguiria fazer outros 10 a 15 filhos".