quinta-feira, 28 de abril de 2011

Mantendo Lula no pelourinho

Caros leitores e leitoras,

Certos setores da mídia (difícil imagninar quais...) vem fazendo de tudo para manter o Presidente Lula no topo das páginas, mantendo também, simbolicamente, a imagem do ex-presidente presa ao pelourinho onde recebe as intermináveis sevícias públicas. Falta de assunto ou patologia mesmo. A bola da vez ficou novamente com Boechat, da Rádio Bandnews, que seria até um veículo bastante simpático, ágil e leve, não fosse o entortamento dos lábios daquele radialista produzido pelo eterno cachimbo do pensamento direitista, que não cansa de lançar fumaça velha. No seu editorial de hoje, Boechat tenta colar no ex-presidente a pecha de malandro, baseando-se no discurso que Lula fez ontem em algum lugar (sinceramente, não prestei atenção e não tem importância) dizendo que os brasileiros assalariados devem participar do combate à inflação. Entende o radialista que o ex-presidente adota a linha de fugir de suas responsabilidades além de justificar a impotência dos atuais governantes que ajudou a eleger. O que quer Boechat? Que os governantes tabelem os preços? Que abandonem a democracia e governem por decreto? Certíssimo, e didático está nosso ex-presidente, ao dizer à população que está em suas maos uma parcela de responsabilidade não só sobre o controle de preços (via comportamento de consumo) mas como também sobre os mais diversos aspectos da nação e da vida democrática, pois afinal de contas, democracia tem demos, que significa povo. O que é uma democracia sem um povo que divide com seus representantes as responsabilidades sobre os rumos da nação? Mas não é isso que querem os bocas-tortas. Querem mesmo o governo autoritário, onde evidentemente, possam, como agentes de comunicação, dizer ao país o que é certo e o que é errado, o que pode e o que não pode. Sobre a inflação em alta, claramente é consequência da concorrência de diversos fatores, mas claramente por pressão de demanda, que por sua vez sucede o crescimento econômico e o poder de compra da população. Nada mal para um país que atravessou a crise dos 4 trilhões de dólares em 2008-2009 sem desemprego e sem recessão, diante de um presidente que soube conduzir o país com autoestima e autoconfiança.

NELSON NISENBAUM

domingo, 10 de abril de 2011

Medicina da Alma: Morte na escola (Rio de Janeiro, 07 de abril)

Medicina da Alma: Morte na escola (Rio de Janeiro, 07 de abril): "Hoje, horrorizadas e perplexas, famílias choram suas perdas, enterram crianças. Seu sofrimento é intenso, legítimo e pavoroso. Muito já foi ..."

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A crise na Sinfônica Brasileira

Caros leitores e leitoras,

A crise instalada na OSB é realmente uma tragédia no cenário da música erudita nacional. Em resumo: O maestro Roberto Minczuk, sob o pretexto de aumentar os salários dos músicos, tentou instituir uma reavaliação individual dos músicos por uma banca internacional. Houve uma rebelião, 37 músicos foram desligados, e figuras como Nelson Freire e Cristina Ortiz, entre outros, cancelaram seus concertos programados para este ano.

Realmente, parece este cenário aquilo que o público mais queria, ironizo.

Tenho enorme admiração pelo maestro Minczuk, como músico. Como administrador ou como líder, neste episódio pelo menos, mostrou-se desastroso. Aparentemente, pelo que se divulgou na mídia, foi um enfrentamento pessoal, onde outras motivações não se evidenciaram. É lícito e atinente ao maestro titular de uma conceituada orquestra zelar pelo primor técnico de seus músicos. Mas há diversas formas de se conduzir uma avaliação, e sem dúvida, submeter um músico que trabalha duas ou 3 décadas em certa orquestra a uma banca técnica alheia à sua realidade, é uma temeridade sob o ponto de vista cultural e uma humilhação sob o ponto de vista pessoal. Cada músico de uma orquestra tem sua cota de participação no prestígio da instituição, e se Nelson Freire e Cristina Ortiz disponibilizaram-se a apresentar-se com aquele grupo, é por que sem dúvida o grupo é bom.

A situação faz-me lembrar alguns parágrafos de um livro do Rabino Nilton Bonder ( A Alma Imoral ) onde faz a clara e sábia diferenciação entre o que é bom e o que é certo, e entre o que é o mal e o errado. O maestro está correto na sua busca por perfeição. Mas os meios que utilizou para este fim mostraram-se em tamanho descompasso e desarmonia (para usar termos específicos) com a realidade que o resultado foi um grande mal. E infelizmente, ele deve ser responsabilizado por isso. A imposição dos propósitos pessoais sobre entidades grupais tem seu preço. Ou paga-se o preço através da negociação política, que exige um alto grau de articulação e conhecimento da realidade, ou através do confronto e possíveis e previsíveis consequências.

Herbert Von Karajan levou, por décadas, a Filarmônica de Berlim a um padão técnico estupendo, sendo por muito tempo um recordista em divulgação e venda do repertório erudito. Não obstante, terminou sua carreira divorciado do seu grupo, em um melancólico exílio. O talento musical perdeu para o personalismo.

Pessoas excessivamente talentosas (e reconheço no maestro Minczuk um exemplo, Karajan, nem se fala...) tendem a se esquecer que o mundo não é feito de pessoas excessivamente talentosas. Portanto, devem aprender a medir seu nível de exigência com o prumo da realidade, sem colocar a perder os seus valores individuais. Para completar, a orquestra é uma entidade cuja clientela é o nobre, respeitável, e sempre correto, consumidor. Ele também deve ser ouvido, assim como ouve a orquestra.

Resta a tristeza de ver a OSB ruir por motivos evitáveis, abrindo uma enorme ferida no nosso mundo musical. Se perdermos a orquestra, não poderemos perder a lição.

NELSON NISENBAUM