segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Caros amigos,

No último sábado, a comunidade do grande ABC paulista recebeu a boa nova. Conforme noticiado pelo DIÁRIO DO GRANDE ABC, "Serra dá água a 220 mil pessoas". É difícil traçar a fronteira entre o trágico, o cômico e o patético quando analisamos o tipo de mensagem que este órgão de imprensa quis transmitir ao divulgar este assunto sob esta manchete. De qualquer forma, pelo menos a mais visível fronteira ultrapassada, foi a da ética jornalística. Esta, literalmente esculhambada por gente que quer fazer o leitor de idiota, tentando fazê-lo acreditar que Serra dá (e toma), como se fosse um deus. Como se a SABESP não fosse uma empresa que tem interesse em vender seu produto (que triplicou de preço desde a entrada da empresa em S.Bernardo) e que estivesse pagando o grande débito deixado na cidade por governos onde o PSDB mandou à vontade. Sem dúvida, a grande doação foi feita no ano passado, quando a SABESP, a multimunicipal, multiestadual e multinacional da água e esgoto publicou naquele jornal a mais volumosa e millionária campanha de propaganda que já se viu. Durante meses, o PSDBESP, opa, desculpem, a SABESP publicou propagandas de duas páginas inteiras e contínuas sobre a obra que estava em andamento no bairro do Alvarenga, esta que seria inaugurada pelo divino Serra, o homem que dá as coisas ao povo. Diz o ditado popular, "aqui se faz, aqui se paga". Sim, é assim mesmo que funciona. Serra fez e o DGABC pagou, mas com juros e dividendos. Foi promovido a deus, que tem o poder de dar ao povo por sua única vontade e infinita misericórdia. Afinal, democracia para quê? As parcerias entre governantes e imprensa resolvem todos os problemas. Vá descansar, José Serra. Hoje é sábado.

NELSON NISENBAUM
S.Bernardo do Campo, 12 de setembro de 2009.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

NAZISMO À BRASILEIRA

NAZISMO À BRASILEIRA


Nos últimos tempos entrei em contato com uma face da vida de nossa população até agora pouco conhecida para mim, e talvez para vocês também. Na minha atividade de médico da saúde pública, venho observando um número imenso e crescente de pessoas com sérias dificuldades de saúde, impossibilitadas de trabalhar, ou até mesmo de subsistir, ou que tiveram sua saúde perdida em função de trabalho insalubre, e que tiveram o seu benefício previdenciário sumariamente negado ou suspenso. Aliás, benefício é um termo inadequado, pois na realidade, trata-se de um seguro, sim, como estes que fazemos para automóveis. Pagamos por isso, e a população mais pobre paga proporcionalmente mais do que as classes mais abastadas.

O trabalhador paga pelo seguro 10, 20 anos ou mais, e quando adoece ou sofre um acidente de trabalho, ou fica inválido, irá procurar a grande seguradora, o INSS, para ter a devida assistência pela qual PAGOU. Não se trata de paternalismo de estado. É um serviço pago e tem contrato. Basta, para facilitar a compreensão, imaginarmos a situação de termos nosso carro destruído por qualquer evento e não recebermos a indenização contratada junto a uma companhia de seguros, sob a alegação pura e simples de que não existem danos a serem considerados.

Para o segurado receber o que lhe é devido, os peritos do INSS exigem um "laudo médico" (como se fossem incompetentes para entrevistar, examinar o doente e interpretar seus exames subsidiários). Ocorre que é imensa a dificuldade destas pessoas em obtê-lo. Se dependerem do atendimento público, podem esperar meses, correndo o risco de serem atendidos por profissionais que se julgam despreparados para a elaboração dos tais laudos. Se procurarem um médico particular, frequentemente terão que pagar por isso, com seus parcos recursos. Mais que isso, os "peritos" do INSS exigem exames complementares muitas vezes desnecessários. E quando necessários, são também de imensa dificuldade para serem realizados nos prazos exigidos. Como de não bastasse, desqualificam sumariamente relatórios clínicos feitos por colegas, sem qualquer argumentação técnica ou científica. O resultado é que o doente ou acidentado, além de pobre, perde sua condição de trabalho, perde seu salário (muitas vezes a renda da família), e não consegue ter acesso ao que lhe é DEVIDO, de um lado pelas dificuldades de atendimento ambulatorial no SUS, e por outro, pela sanha de peritos que se vêem não na condição de técnicos, mas na condição de "guardiões dos cofres", como um deles já se manifestou na minha presença, para o meu horror. Isto para não falar da dificuldade em obter assistência médica adequada e resolutiva, pela qual também paga por impostos diretos e indiretos.

Assim, pessoas e famílias são expostas à mais variada sorte de humilhações e danos secundários à sua saúde, chegando a uma situação de sofrimento crônico e penúria, que nos faz lembrar dos campos de concentração nazistas, para onde eram encaminhados entre outros, aqueles incapazes pelas mais variadas causas.

Do outro lado, vemos casos de pessoas "encostadas" no INSS que jamais reuniriam condições clínicas para tal. Os mecanismos dessa distorção são assunto para a Polícia Federal, e não vou me ater a isto, o noticiário tem estado recheado deste assunto.

Esta é a vida do trabalhador doente e do brasileiro pobre. Pelas mais diversas circunstâncias, ele é discriminado, excluído e condenado à própria sorte. Enquanto isso, economistas, administradores e alguns políticos persistem no discurso financista com o qual querem enquadrar o INSS na lógica de empresas privadas lucrativas, como se não existisse a última letra da sigla, que significa justamente SOCIAL. Outras instituiçoes, como por exemplo, os Conselhos Regional e Federal de Medicina mostram-se indignadas com a violência dirigida a certos peritos do INSS, mas não se manifestam e tampouco fiscalizam a atuação de peritos que comportam-se como verdadeiros monstros, que negam ao doente até mesmo o direito que eles tem de saber o nome e o registro profissional de quem os examina.

Não, meus amigos, não estou falando de outra cidade ou outro país. Está aqui, no nosso quintal, montada e plenamente funcional uma máquina de fraticídio, de extermínio, difusa, não concentrada, e por isso, difícil de ser notada, sob a cegueira deliberada da justiça, de várias instituições da sociedade, e contando ainda, com a omissão da grande mídia. Mas afeta só os pobres e doentes.

Como descendente de sobreviventes dos horrores nazistas, tenho a sensibilidade à flor da pele. Não vou silenciar. São brasileiros que estão sofrendo. São meus irmãos.

NELSON NISENBAUM

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O PSDB E A SEGURANÇA PÚBLICA

Amigos,

Abaixo a reprodução de uma matéria publicada no CLIQUEABC de 2/9/2009. Vale a leitura.


Uma reportagem do Fantástico no último domingo comprovou a eficácia da lei 12.636, de 2007, do deputado Vanderlei Siraque, que proíbe a venda de fardas das polícias federal, militar e civil no Estado de São Paulo. Mesmo com a comprovação da importância da Lei, em 2007, o Governador do Estado, José Serra, entrou com uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra a Lei, numa clara demonstração de descaso com a segurança pública de São Paulo. A ação ainda tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) e aguarda julgamento. A luta pela aprovação da lei durou cinco anos. Desde 2002, Siraque se empenhou em mostrar aos deputados e ao Governo do Estado que a lei era de suma importância. Em 2007, a Lei foi sancionada pela Assembleia Legislativa, que derrubou o veto do ex-governador Geraldo Alckmin. O jornalista do Fantástico tentou por quatro vezes comprar fardas em São Paulo. Como resposta, a vendedora citou a lei. “Aqui tem uma lei estadual. Precisamos pegar o RG da pessoa, o batalhão que a pessoa é, o nome e o que comprou”. O objetivo da Lei é proporcionar mais segurança aos cidadãos do Estado de São Paulo, pois a venda de fardas, coletes, distintivos, acessórios das polícias, das forças armadas, agentes penitenciários, guardas de muralhas, guarda metropolitana, guardas municipais gera um grande risco à população e muita confusão às instituições responsáveis pela segurança pública, como foi provado na reportagem do Fantástico. Um exemplo do perigo da venda desenfreada de uniformes foi o sequestro do publicitário Washington Olivetto, que ao ver cinco homens trajando coletes da polícia federal interditarem a passagem do seu veículo, pensou que se tratasse de uma blitz e parou, sendo dominado pelos bandidos. Na matéria, o repórter do programa conseguiu comprar fardas da polícia em três Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro, numa clara demonstração de fragilidade dos agentes de segurança nesses Estados. “Isso mostra que a Lei funciona e que sem ela, estaremos correndo sérios riscos. Na reportagem, o jornalista adentrou em diversos locais públicos, tomou ônibus, passeou em escolas, sem que sua presença fosse questionada. E se fosse um bandido?”, ressaltou. A importância da Lei é tanta que especialistas ouvidos pela reportagem são a favor de uma Lei Federal, para regulamentar a venda de fardas e acessórios. Segundo Siraque, agora cabe ao governador José Serra admitir que a lei funciona, que garante a segurança da população e que evita a ação de bandidos.