Caros leitores e leitoras,
A matéria abaixo, publicada no DGABC de ontem, traz entrevista com o líder islâmico de S.Bernardo do Campo, onde trata da pena de morte imposta a uma cidadã iraniana, supostamente por adultério. Independentemente das questões de soberania de estado que podem e são invocadas pela diplomacia internacional, chama-nos a atenção o conteúdo da mensagem do referido líder espiritual. Entendemos que nas suas palavras está contida tão somente uma análise legalista, o que evidentemente não é o que se espera quando se entrevista um religioso. Ao não acrescentar absolutamente nada à letra fria da lei iraniana, ao não tecer qualquer tipo de suporte espiritual, o sheik parece endossar o que lá se passa, eximindo-se de qualquer sentimento de compaixão com a suposta pecadora. No limite, deixa nas entrelinhas que no seu entendimento como líder islamita o mesmo poderia - talvez deveria - ocorrer aqui, no nosso país.
Nós, autores deste texto, estamos em público rejeitando qualquer iniciativa ou movimento que pretenda confundir legislação religiosa com legislação civil, tendo claro que não é função de nenhuma religião dispor sobre a vida de qualquer ser, humano ou não. Temos o claro entendimento de que a espiritualidade e a religião são as mensageiras da vida, da esperança e das transformações, inclusive a dos pecadores.
Em artigo publicado pelo mesmo sheik Jihad, em revista sobre religião, o clérigo afirmou que Jesus revogou o Antigo Testamento, estabelecendo a Sua nova lei; e que Maomé revogou o Novo Testamento, estabelecendo uma lei mais nova e soberana sobre as anteriores. Afirmou, contudo, que Jesus não morreu, e que voltará para completar a sua obra. Ora, com certeza, Jesus não voltará contrariando uma de suas maiores contribuições para a compreensão do que é ser humano, contida na frase "... quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra."
Temos a mais absoluta convicção que o Grande Arquiteto do Universo não será agradado pela brutalidade que está por vir com a pobre mulher iraniana. E lamentamos, profundamente, que o líder de uma respeitável cultura tenha renunciado à sua função de espiritualista, ao se manifestar de forma tão fria e materialista.
NELSON NISENBAUM
MOYSES CHEID JUNIOR
Apedrejamento de viúva instiga debate entre lideranças
Bruna Gonçalves
Diário do Grande ABC
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A história da iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani condenada à morte por apedrejamento em seu país por adultério gerou discussão no mundo e divide opiniões.
Sakineh foi condenada à morte em 2006 por ter mantido "relação ilegal" com dois homens, após o assassinato de seu marido.
Para o presidente do Conselho de Ética da União Nacional da Entidades Islâmicas do Brasil o sheik Jihad, de São Bernardo, é preciso respeitar as leis de cada país. "Temos de analisar o caso para ver se a lei foi infringida. Se a mulher cometeu adultério e for comprovado por quatro testemunhas oculares, deverá cumprir a lei que determina apedrejamento. Em casos de homens, a determinação é a mesma".
Ele cita que todos conhecem as leis de seu país. "A pessoa que rouba no Brasil sabe que pode ser presa. Ou seja, ela comete uma ação sabendo das consequências. É assim em todos os países", afirmou.
Enquanto isso, advogados discordam da atitude. "Em pleno século 21, é inadmissível que uma pessoa que tenha cometido adultério seja apedrejada. Não tem como aceitar que um ser humano seja castigado por essa conduta. Mesmo sob manto da religião", disse o coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo Martim de Almeida Sampaio.
O CNDM (Conselho Nacional dos Direitos da Mulher) encaminhou uma carta ao embaixador do Irã, no Brasil, referindo-se à inviolabilidades do direito à vida e à proibição da pena de morte.
Para o professor de ciência política e direito de Estado da Faculdade de Direito de São Bernardo Jonathan Hernandes Marcontonio a pressão da mídia tem um papel diferenciado.
"A mulher é muito frágil e oprimida nos países do oriente. É um caso que terá muita discussão e terá intervenções. No caso, o Brasil ofereceu, em julho, asilo político. Sua postura foi de maneira emblemática como defensor das matrizes dos direitos humanos e da política da boa vizinhança."
Jonathan cita um caso em que a mídia contribuiu para o desfecho. "A nigeriana Amina Lawal, que em 2002 foi condenada - havia se casado e engravidado após o desaparecimento do marido - por lapidação (é enterrada até o pescoço e pessoas ficam apedrejando até a morte) foi absolvida após pressão de órgãos internacionais."
Advogado - Para os especialistas, a fuga do advogado da iraniana Mohammad Mostafei do Irã para pedir asilo político em outro país reforça o caráter autoritário do país. "Ele exercia o legítimo direito de defesa. Já defendeu 40 pessoas, a maioria mulheres, e conseguiu tirar 14 do corredor da morte", disse Sampaio.
A opressão do homem pelo homem iniciou-se com a opressão da mulher pelo homem
ResponderExcluir- Karl Marx citado em "Crítica social" - Página 85, de Brazil ADIA (Rio de Janeiro - 2003
É incontestável a importância da mulher na transmissão de valores e princípios necessários à vida em sociedade. Sendo assim, que nação se constituiria como tal se não fossem as mulheres?
O fato mais paradoxal é que tal importância intelectual, psicológica, religiosa e mesmo política, seja subjugada pela força física.
Deixe-se claro que a Bíblia não coaduna com a violência ou qualquer tipo de preconceito contra a mulher. É nela que encontramos lindas palavras de amor e profunda consideração ao elemento feminino. Quer a consideremos como livro sagrado ou como apenas uma referência bibliográfica da historiografia palestina, temos de ser sinceros em admitir que "Deus não é parcial". Tal fato permitiu que a nação de Israel se mantivesse coesa e longe de qualquer contaminação durante muitos séculos (falamos de homens e de mulheres).
A Bíblia não é conivente com o adultério, no entanto, Oséias o profeta, traído por sua esposa foi orientado por Deus a aceitá-la de volta, assim como o próprio Deus aceitou a adoração de Israel depois de ter sido traído. Prova de que se Deus perdoa nossas ações, por ele condenadas, por que não podemos fazê-lo?
Não somos senhores da fé uns dos outros, mas Deus julgará nossos atos.
Independentemente das questões religiosas envolvidas, cremos no perdão, na compaixão, e no amor, como amálgama indispensável a vida em sociedade, não no medo.
Quando não se vê saídas para as angústias, toda imposição do medo perde o sentido, visto que a morte se torna uma libertação.
Logo, angariar o respeito pelo amor diminui os atos faltos, uma vez que o indivíduo nunca quer magoar a quem, de fato, ama.
A crueldade imposta às mulheres não as tornarão impassíveis nem inertes. As leis mudam, como mudam as sociedades e suas tecnologias e desejos. Os princípios ficam.
Não queremos defender o adultério, em qual coordenada geográfica seja. Queremos defender a adoção daquilo que se prega em todas as línguas e culturas: tratar o próximo como gostaríamos que nos tratassem. Por certo somos benignos conosco, perdoamos nossas constantes falhas, abrandamos nossas faces frente aos nossos próprios erros. Então a lógica é imediata.
Não coloquemos em Deus as culpas por nossos piores instintos, ao contrário, sejamos imitadores de seu principal atributo, pois "Deus é amor" (1 Jo. 4:8).