terça-feira, 29 de abril de 2014

PESSACH - MENSAGENS ÉTICAS, MORAIS E SOCIAIS

PESSACH - MENSAGENS ÉTICAS, MORAIS E SOCIAIS

Neste momento em que vivemos a festa da libertação, temos o compromisso intrínseco de renovar seus significados para os tempos e locais que vivemos. Renunciar a tal missão, nos outorgaria ao ostracismo do mundo espiritual, que não comporta o imobilismo.

As libertações são possibilidades múltiplas no espectro da existência humana, e o que não faltam, são os exemplos respectivos na narrativa de Pessach.

O personagem central da narrativa bíblica, Moisés, radicaliza este conceito quando rompe com suas origens, renunciando à sua vida de príncipe do Egito, após ter seu coração tocado pela brutalidade com a qual era tratado o escravo. Recebe então, um pesado fardo, o de libertar um povo que de tanto se acomodar na opulência de uma terra rica, terminou por ser escravizado e dominado.

Não obstante seu infinito poder, o Eterno não faz concessões. Suas designações devem operar-se pelas mãos e mentes dos humanos, que onde quer que estejam, tem o seu papel transformador através da auto-transformação. O mundo por Ele criado é o palco mais que suficiente para essas tarefas.

Há muitos "Egitos" no mundo de hoje, muitas pirâmides, faraós, palácios e príncipes. Não seria nada difícil construir uma narrativa semelhante com os elementos presentes na nossa cultura e sociedade.

Entre os Egitos, mitos, ídolos, está um consumismo que aprisiona segmentos de nossa sociedade em análogos da escravidão. Submetidos neste momento a pressões de mídias as mais diversas, milhões de pessoas que amassam o barro de nações, tendo a nossa como ótimo exemplo, encontram prazer e satisfação no consumo de bens supérfluos de altíssimo custo, o que compromete seus orçamentos e sua capacidade de crescer economicamente, de progredir na escala social, em um ciclo mais que perverso. Alimentando a máquina do consumo fútil, transferem sua pouca riqueza àqueles que já são ricos, tornando-os ainda mais ricos e tornando-se ainda mais pobres e endividados.

A estrutura familiar, por sua vez, encontra-se minada e arrasada pela necessidade de trabalho e produção, a consumir tempo e energia de pais e mães, que já não mais conseguem prover o afeto a seus filhos em função de sua carga de trabalho e estresse vivido nos grandes conglomerados urbanos. Fecha-se assim mais uma alça de alimentação deste círculo vicioso. Sucessivamente, formam-se gerações de crianças e adolescentes com todo o tipo de deficiência afetiva e imaturidade emocional, condenados à satisfação de seus instintos pelo consumo compulsivo de qualquer coisa, no que dramaticamente se incluem as drogas, hoje funcionando como verdadeiras pragas bíblicas.

Contribuindo ainda mais ao ciclo, o sistema político produz por sua vez um sistema educacional voltado apenas a formar futuros trabalhadores, mas não pensadores, não líderes, não provedores de afeto, solidariedade, fraternidade, e paz, e muitos sistemas religiosos absorveram a lógica de mercado, espetacularizando, mercantilizando e profanando as heranças espirituais.

Hoje, a Terra Prometida é a paz, tão difícil de ser alcançada, tanto no plano interno das nações como em suas relações entre si. A mensagem que Pessach tem para o momento, não poderia ser mais emblemática: Atravessar o "mar vermelho", comer a Matzá, o pão sem fermento, e peregrinar um pouco pelo deserto, onde estejamos apenas entre nós mesmos e o Eterno, e tentar, desta vez, não repetir o episódio do bezerro de ouro.

Na narrativa bíblica, houve assim o nascimento de um povo livre. No mundo autal, poderíamos fazer nascer um planeta livre.

NELSON NISENBAUM
PESSACH, 5774

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