segunda-feira, 17 de maio de 2010

GÁS METANO NO TRIBUNAL

A notícia publicada hoje(15/5/2010) no site do Estado de S.Paulo, dando conta da punição imposta à presidente da APEOESP por ter feito "propaganda negativa" contra José Serra (em março passado) nos remete à imagem de um poder público decompondo-se em um aterro sanitário, tendo no gás metano a representação de sua derradeira manifestação de atividade. Condena-se, em um tribunal eleitoral (TSE), uma sindicalista, por ter ofendido o governador. O fato atinge nosso intelecto de forma atordoante, até que, recupereados do impacto, sejamos tomados finalmente pelos nossos corpos amigdalóides, estruturas cerebrais que entre outras coisas despertam as mais enérgicas reações em defesa da integridade de nossas vidas. Passada a tempestade cerebral, e já com a máscara anti-metano, passamos ao exame da situação. Ora, como pode um tribunal eleitoral, condenar alguém, que não é candidato e não representa partido, por atos relativos a alguém que, oficialmente, não é candidato? A segunda pergunta (já que a primeira é fácil responder) é, quais as motivações que levam um tribunal a transpor um oceano jurídico conceitual, transformando uma causa de direito civil em causa de direito eleitoral? O fato abre um cenário inequívoco de interferência e partidarização da justiça eleitoral, que mostra suas garras institucionais manchadas pelo sangue ditatorial, exercendo sim, a tão temida censura, não à imprensa, mas ao cidadão comum e seus representantes. Censura esta, que jamais foi aplicada a qualquer veículo, pessoa, partido, representante, que tenha ofendido, nos últimos anos, a imagem do PT e a do Presidente da República, este sim, verdadeiramente vilipendiado pelas mais variadas instâncias de comunicação, sem jamais ter reclamado judicialmente. Esta é a postura de um verdadeiro democrata, que responsabiliza-se pelo seu vestal político, admitindo a discórdia, por mais ofensiva que possa ser. Estão dadas as cartas do jogo do senhor José Serra e seus partidários, confirmando o já consagrado adágio de Ciro Gomes, que reza sobre as sempre presentes baixarias quando tem Serra no jogo. Mais que a baixaria, o episódio deve servir de alerta à sociedade, que deve verificar cuidadosamente qual é o lado que quer a censura e a repressão política nesta país.

NELSON NISENBAUM

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